quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

No need for tomorrow
When you can't find today

(Won´t Find It Here - Black Label Society)

Finalmente finda-se a farsa do futuro

Nenhum dia mais no horizonte... Talvez o amanhã, como o dia seguinte e não como um futuro distante ou um plano de vida. Todas as etiquetas adesivas que poluiam as formas do mundo amargam agora a mais profunda solidão no lixo mais próximo.
Os planos agora são somente esses curtos sorrisos, ou o entrelaçar de dedos... De todas as confusões que nos aguardam optei pela única certeza, a mais pura e bela que encontrei.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Quando o tempo não faz sentido


Contando as horas passo meus dias... Os minutos, depois os segundos.
É como me arrastar de um canto ao outro, as vezes sem um rumo... Matar o tempo como uma obrigação, de quem bate o cartão do cotidiano. Como quando estamos sentados na poltrona do ônibus vendo a paisagem passar... Um poste, um passante, um posto de beira de estrada, todos são não-lugares, não-sujeitos, ornamentos necessários.
Eis como se configuram meus dias, depois que conheci certos momentos... É assim que um relógio que conta as horas parece algo tão ridículo. Não faz sentido algum dizer que passamos duas, três horas juntos, foi uma pequena porção de eternidade permeada por pequenos detalhes perfeitos, um mosaico translúcido de todas as melhores lembranças.
Aparentemente foi ontem, ou semana passada, ou melhor, há 30 minutos atrás, quando na verdade já se transformaram em uma narrativa mitológica, que agora conto com outras cores, pois as misturo com a sensação do último toque, das pontas dos dedos, dos braços esticados na despedida...
Você é meu pequeno livro de contos, o Carvalho que Orlando levava ao peito, você sabe muito bem do que falo, pois da nossa linguagem apenas nós dois entendemos.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Esquizoanálise


(...) esses eus de que somos constituídos, sobrepostos uns aos outros como pratos empilhados na mão do copeiro, têm suas predileções, simpatias, pequenos códigos e direitos próprios, chamem-se como quiserem (e muitas dessas coisas não têm nome), de modo que um só virá se estiver chovendo, outro, se for um quarto com cortinas verdes, outro, se a Sra. Jones não estiver lá, outro, se pudermos prometer um copo de vinho – e assim por diante; pois cada pessoa pode multiplicar com a sua própria experiência as diferentes condições que impõem os seus diferentes eus – e algumas, de tão ridículas, nem podem ser impressas em letra de fôrma (Vírginia Woolf - Orlando).

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Talvez eu me atrase...

Quero sempre certezas e saber o que esperar. Mas de repente me vem um lampejo, talvez um segundo de lucidez que me permite entender que tudo é circunstancial, desde sentimentos até tempestades. Passar por uma encruzilhada e ser atropelado ou tropeçar nos pés da mulher de sua vida. Tudo ocorre das formas mais inusitadas, e até o encontro marcado só ocorre se em algum lugar o inesperado esteja operando. Para alguém as coisas não foram como se esperava para que você chegasse na hora marcada e não perdesse uma chance ou um sorriso. E eu querendo controlar, da melhor forma, trazendo para perto o que insiste em ser arredio, achando assim que conseguiria estar tranqüilo e pisar em terreno firme. Posso alimentar essa minha ilusão, por alguns dias ou meses, mas a crueza das coisas uma hora se apresenta e eis eu mais uma vez desapontado com aquilo que criei em meu espírito. O futuro não existe, pois só ganha materialidade e realização quando se concretiza no presente, por isso talvez o meu desconforto, já que sempre tentei planejar e prever. Mas sempre em algum lugar o imponderável opera. Hoje talvez o meu barco se atrase e eu possa pensar sobre como construir um dique sem jamais barrar o sentido das coisas.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Desde o início.


Fechando mais um ciclo de infortúnios, o relógio olha para as horas e diz: "engulo-te como quem sorve a matéria de todo o universo, como um buraco negro prestes a tomar toda a existência para si".
Eis que agora a serpente morde a própria cauda e o caos que se instaura demonstra toda sua potência destruidora. O futuro não existe!

domingo, 24 de outubro de 2010

"Você me fez confessar os medos que tenho. Mas vou lhe dizer também aquilo que não temo. Não temo estar só ou ser rejeitado por um outro ou abandonar o que quer que eu tenha que abandonar. E não tenho medo de cometer um erro, até mesmo um grande erro, um erro que dure toda a vida e quem sabe tão longo mesmo quanto a eternidade" (J. Joyce - Um retrato do artista quando jovem)

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Indiferença


É sempre o ciclo de decepções do qual a vida retira seu sentido. Quando as expectativas superam os resultados dos processos, o mundo parece tão vazio de questões relevantes e mesmo de relações consistentes que o abandono das convicções passa a ser o mecanismo de auto-defesa mais fácil de ser acionado. Idealizações são o fermento da discórdia e das insatisfações, é centrar-se em si o movimento natural e irremediável de todo indivíduo nos dias de hoje. Colocar esperanças em algo ou alguém é tornar-se vulnerável em um contexto que não perdoa fraquezas; são lobos entre lobos, querendo arrancar cada um seu pedaço de carne, mesmo que para isso todos os seus sejam dilacerados.
Como transitar sem manter a expectativa da reciprocidade? São formas de viver e conviver frias, que colocam os sujeitos distantes, e que permitem apenas um campo de enunciação: transformar o outro em objeto, quando também eu não sou sujeito quando as contas são feitas do outro lado. Não tenho essas respostas, se me torno um grande matemático dessas subjetividades perco até mesmo quando ganho, é optar pela segurança em detrimento daquilo que realmente importa: as surpresas que o estar vivo nos reserva.
Manter os pés nos chão quando em tudo que metemos nossos narizes buscamos elevação e a liberação da indigência pela qual transitam nossas relações... Será impossível não assumir riscos? Realmente não tenho as respostas, mas alguns querem me dá-las, insistem em me ensinar a arte da indiferença, acho que vou tentar aprender, aliás, o quanto já não aprendi sobre isso...

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Indícios


O extraordinário cruza nossos caminhos diariamente, mas nossos olhos desmagificados não conseguem captar as mensagens sutis que estão dispostas. Tendências racionais, organizadoras por essência, catalogadoras, encaixam tudo aquilo que presenciamos em suas taxionomias.
Os indícios que Ginzburg tanto procurou, nos mostram pequenos pedaços, amostras de todos, respostas subliminares para as nossas aflições. Há um equilíbrio agindo, maior que nosso entendimento, a naturalidade de um caos que pouco se preocupa em se ordenar... Não há uma consciência, um destino, um supra sujeito operador dos infortúnios, apenas ciclos intermináveis de idas e vindas, de evoluções e involuções, identificações e diferenciações... Em alguns momentos as explicações nos surgem, como lampejos de lucidez sob a luz de mensagens impossíveis de serem interpretadas pela razão analítica, não da forma como a concebemos...
O místico não precisa ser irracional, matéria de loucos ou charlatães; ele pode muito bem ser aquilo que não precisamos fazer força alguma para entender; a compreensão é automática, como algo instintivo, como matéria de um ritual esquecido, ou assunto de xamãs perdidos na selva. Uma sabedoria que negamos a nós mesmos.
Eu entendi, no momento que eu precisei das respostas... Mais uma vez a ciência se mostra necessitada de resignificações, de outros paradigmas mais viscerais, que respondam às correntes elétricas que vagam pelas nossas sinapses, assim como aos impulsos da libido. Somos carne e ossos, espírito e dados, razão e sangue... Pouco mais que gráficos.... Daí os coelhos brancos, as sombras nos corredores, as correntes arrastadas no sótão...

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

De Durkheim a Tarde...

Vemos a totalidade, e esse olhar sobre o todo deixa escapar os detalhes, as reações, as diferenciações, os movimentos de idas e vindas, para cima e para baixo que fundam a dinâmica dos corpos. Acredito que seja uma questão de perspectiva, pois a visão de dentro acaba revelando como as distinções operam até mesmo nos todos mais homogêneos. São os usos estratégicos da cultura, que proporcionam a apropriação momentânea, o jogo estruturado, mas nem por isso fechado.
Sempre dizem: "é uma coisa ou outra", quando sempre há uma terceira coisa!

domingo, 22 de agosto de 2010

Só a presença já basta, o estar ali... cruzando olhares, trocando sorrisos. Apenas o existir, por alguns segundos paralisados, estáticos...

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Resurrection


Solitude and broken hearts
Living all around us
Centuries of asking "why the wind blows here"
Search a solution to save us from pain
From falling to pieces
I survived a war with demons
And i've erased the past
It's a new beginning waking up
Waking from my sleep
I feel alive and we're gonna dance


quinta-feira, 19 de agosto de 2010

O Idiota


Incertezas, comiserações, vasos quebrados, noites escuras... Tropeços e quedas, erros, tiros a esmo... A espera do Idiota, uma bala guardada para um coração inquieto... O caminho até o fim leva dias, é uma romaria de almas mortas; aguardar o estampido surdo de uma nota que soa apenas uma vez. Eis o idiota que caminha, um misto de Cristo e Dom Quixote, um deslocado, um louco, um ser febril. Um russo soube do cheiro da morte, por isso nos deixou o relato da lâmina que corta fria a carne pulsante de um coração aflito. Quantas auto-biografias não se emparelham com a vida de um príncipe chamado Míchkin. Qual é o seu fim?
São valores que se vão em cada ataque epiléptico, é uma gota de esperança que se esvai do corpo contorcido no chão. Um erro apenas, e aquele que segue sobre a linha pode cair e nunca mais voltar; para os tortos, o certo pouco existe, ou é apenas um dos lados dos quais fazem uso.
Eis a escolha do Idiota: ser um idiota, um pária, a sofrer pelos seus pequenos erros... Ou, aceitar a miséria do mundo, e ser como qualquer um... Não mais carregar as cruzes, não mais lutar contra moinhos...

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Você que se vai...

Vai inesperadamente, era algo que acreditávamos ser eminente, mas que assim mesmo, esperávamos que não ocorresse. Ela não poderia ir, era o receptáculo de tudo aquilo que de melhor havia no mundo, uma prova viva de que o espírito humano possui uma certa beleza teimosa em se esconder. Encantou a todos que cruzaram seu caminho, seus olhos oblíquos sempre dispostos a afagar o mais infeliz dos seres, alguém que de tão bela era quase uma idealização. Só suas cicatrizes a tornavam real, seus sofrimentos aos quais pouco dava valor eram a matéria bruta que ela transformava em belas histórias, ternas e prazeirosas, que nos faziam parar e esquecer o tempo do mundo, ouvindo sua voz macia e aconchegante.
Acolher seus diversos sobrinhos em uma manhã de sábado, encharcados e sujos. Trazê-los para o seu colo. Lembrava de todos em seus mínimos detalhes, surpreendia a importância que dava a cada um com quem pouco conversara. Cada ser tem seu encanto, seu lugar no mundo, e a miséria que nos cerca jamais pode ser desculpa para nos tornarmos monstros. Era essa sua lição...
Jamais ouvi uma palavra de recriminação saída de sua boca, compreendia a todos, deixava que vivessem suas vidas, já que ela já havia visto a maldade com sua pior face, tinha provado toda a capacidade humana de trazer dor e descontentamento, e mesmo assim, trilhou seu caminho com sensatez, ternura, ensinou muito a muitos; aprendi com ela...
Aqueles que um dia estiveram a seu lado não podem deixar de dever algo à vida, de se reconhecerem como privilegiados, conheceram a melhor pessoa possível, um modelo que se perde agora, mas que fica em nossas lembranças... sólido e duradouro...
Ela não foi uma pessoa, foi um valor!

terça-feira, 17 de agosto de 2010

(...)

Mais uma vez o caos e o desencontro. Uma confusão interminável.
Um instante e todos os esforços mais nada significam. Muito justo, mas infinitamente triste. Do pouco conquistado o muito perdido. Uma irremediável tragédia escrita com antecedência.
Escapa pelas minhas mãos, pela minha incompetência e insensibilidade.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Reticente...

Olhos que se perdem em pensamentos e mistérios. Como um ser arisco, encantador e selvagem, desconfiado com o mundo, mas seguro de si. A cada passo em sua direção é a fuga que ameaça e a torna mais fascinante. Como momentos efêmeros que se gravam na pele, como marcas de uma experiência vivida em outra vida, em uma outra época, quando os mestres eram reis, quando os deuses eram sóis.
É aos poucos, devagar, ela vem sorrateira. É nos detalhes que o sorriso vem fácil. É como conquistar o mundo aos poucos, um pedaço por dia, batalhas que você vence pela insistência, mas que são doces, imprevisíveis, muitas vezes confusas e desencontradas, mas nem por isso imperfeitas.
Beber a vida como um vinho raro, enebriar-se com aquilo que é simples e belo... Descobrir que maravilhosas surpresas a vida nos guarda.

domingo, 8 de agosto de 2010

O pêndulo

Eis que vai... Eis que volta! Como o desespero e o entusiasmo. Rápido o suficiente para impedir uma imagem, lento demais para não deixar uma lembrança. Como uma pedra no sapato, de um lado ao outro, incomoda, mas quando a tiramos parece que algo falta.
Marcar os segundos, dar corda à vida. Eis que vai... Eis que volta! A vontade e o desânimo. A energia de conhecer o mundo, que acaba quando lembramos de seus absurdos. Como os ímpetos de um domingo à tarde, inspiram, mas não nos movem.
O ritmo. Eis que vai... Eis que volta! O controle e o excesso. Como caminhar contando os passos, não impõe os riscos, não desafia, merece o esquecimento.
É preciso provar todas as dimensões do pavor e do conforto. Sentir a falta de algo que não esteve presente é se perder em ilusões alheias. Oscilar e esperar. Eis que vai... Eis que volta!

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Era manhã, como qualquer outra. Fria, mas um sol esperado e quente. Os mesmos pensamentos podem contaminar a mente mais sadia, transtorná-la, torná-la abjeta, pouco capaz de construir ilusões ricas de sentido. O que sobra de fantástico se o concreto se impõe como regra? Caminhos de uma rotina acabada se intercalam entre impossibilidades, a presença do azar ou da sorte!
Esperava um gato preto, mas quem cruzou seu caminho foi um coelho branco. Uma grande ironia, ou uma mensagem para pensar, interpretar...

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Escolhas...

Escolhas são feitas todos os dias. Quero a vermelha, melhor assim, melhor assado... Quando é apenas uma camiseta, ou a cor da gravata, é mais simples, até porque muitos mudam de opinião como mudam de roupa. Agora, decidir sobre questões que alteram a vida dos outros, pensar que você tem o poder sobre os rumos e caminhos de outrem, isso exige a responsabilidade dos grandes, do peso que só quem tem ombros largos pode suportar. Retidão, caráter, palavras que parecem perdidas em antigas enciclopédias amareladas, que hoje não fazem sentido para muitos, são poucos que se dispõem a carregá-las e pagar pela sua teimosia.
Mas o erro é algo constante para aqueles que escolhem, que ousam decidir o que seja... Esse tal de livre-arbítrio é a droga das mais fortes, nos convence de que sabemos aquilo que é melhor para nós mesmos, ficamos tentados a arriscar um salto mortal de costas só porque nos disseram que era perigoso. É coragem ou irresponsabilidade... tanto faz, escolher, colocar a Marselhesa para tocar no ouvido dos seus vizinhos é muito fácil, difícil é sair na calçada quando chamarem a polícia.

sábado, 31 de julho de 2010

Inexplicável

Desejar demais... Aguardar o momento de realizar o irrealizável. Esperar e esperar. Descontar o futuro no presente. Da náusea à satisfação há uma grande distância, que perpassa todos os obstáculos ao possível. Espere o que for, mas não espere o explicável. Isso foge...

domingo, 25 de julho de 2010

Tree O'Clock Blues


É na noite, a harmônica toca naquela jam de 1968... esse ano foi complicado. Mas as lembranças que esse tal Rei trazem são de tempos mais recentes. A música desperta tudo aquilo que foi doce dos mais amargos dias, leva a pensar porque não deu certo. O propósito é a melancolia ou essa nostalgia que provoca os sentidos para aquilo que foi bom? Se o arrependimento matasse... teríamos um planeta vazio, ou pessoas com medo de errar.
É disso que a música fala, que Rei complementa com as notas da sua guitarra. Você se valeu de suas pernas, trilhou seu caminho como todos, era o seu, o de mais ninguém, era o improviso que você podia fazer, corra atrás dos tempos, senão o bumbo lhe escapa!
Pense! As perdas e os dilemas são fáceis? Enfrentar a estrada empoeirada, dormir sob a sombra de uma árvore em uma encruzilhada, chorar pela mulher amada... Um blues na madrugada, uma garrafa de qualquer coisa, tudo para dar errado, e apesar disso estão lá, as batidas são as mesmas, o baixo arrasta as mesmas notas, e a voz de Rei leva o resto, e quem não vai seguí-lo? Ele é o rei!

well now its three o' clock in the mornin
and i cant even close my eyes
three o' clock in the mornin
and i cant even close my eyes
cant find my baby
and i cant be satisfied

São três da manhã e ele não se cansa, é o chiado da caixa valvulada e as notas da sua Gibson estridente. É hora de dormir, é o Blues das três.

sábado, 17 de julho de 2010

Próxima parada!


Por onde passo vou deixando pedaços, em um caminho que parece não ter fim. É como se nenhum lugar mais fosse tão seguro, não houvesse mais lar, lugar para voltar... Será que essa é a deriva, o mosaico, a fluidez de nossas individualidades ditas pós-modernas? Como me encaixo, como digo "isso é meu"?
Lévi-Strauss dizia que em nossas sociedades modernas e complexas o mito só se processaria no indivíduo, daí nossas neuroses talvez, nossas incapacidades de darmos sentido a essas cadeias simbólicas processadas inconscientemente.
Qual seria então o meu mito individual, seria o do eterno filho pródigo? Daquele que sempre volta para onde não mais consegue se encaixar, e que quando se vai, deixa parte de si para trás. Qual será o ponto de partida e o de chegada, se os referenciais se misturam? Será para onde volto o lugar que abandonei, ou de onde parto o meu lugar de origem?
Minhas raízes não se prendem mais ao solo, por mais força que façam, são frágeis, se arrebentam toda vez que me arranco de um lugar ao outro... quando tento me recompor percebo não estar tão seguro, não existem mais oásis de descanso, somente salas de espera, "não-lugares" assépticos, nos quais a vida se alimenta de pouco mais do que seus restos. A segurança acabou, o único calor agora é aquele da fogueira do acampamento.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Let this river flow

Essas preocupações que movimentam o seu ser, que colocam seu coração de sobre-salto, são apenas complicações daquilo que é simples e não quer se tornar monótono. Apreciamos o imponderável, a dificuldade, os problemas; tornar tudo complexo, até onde podemos suportar.
Do que é singelo obtemos apenas o desprezo por algo tosco e mal acabado. Precisa ser transformado, tornado incompreensível, para depois nos engolir e dificultar nosso viver; queremos nos sentir grandes mártires por estarmos vivos, e enfrentarmos a realidade como quem reproduz a jornada mítica,de um herói que já morreu há tempos, mas que deixou sua herança sórdida que coloca tudo como um grande desafio.
Fazemos de copos d’água grandes tormentas, pequenos erros transformam-se em catástrofes, a ponto de um fracasso valer por toda uma vida. Você ganha ou você perde, é sempre uma coisa ou outra, quando sempre há uma terceira coisa! Não pise fora linha! Quando ela nunca existiu, é como o equador, uma marcação imaginária, que lhe dará no máximo um mapa que nunca será em escala real, ou será que emoções se medem por graduações conversíveis? É deixar as coisas correrem, do resto o tempo se encarrega...

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Vigília

Uma noite, gestos, toques, sentidos. Palavras suaves ditas como encantamentos secretos, para poucos, para únicos. Incansavelmente entretidos em seus jogos de olhares, em seus movimentos de suspiros infinitos iluminando a escuridão com sua quintessência vaporosa. O mundo lá fora, como algo alheio, pois somente o universo dos sentidos impera como uma possibilidade, o resto são ilusões, coisas para pensar, entulhos de sonhos não alcançados, de desejos não satisfeitos. Uma vigília que guarda o sagrado, o mítico, mistérios para dois, não mais.

Essência


Algo que está em mim, algo que não existe fora de mim.

Preocupar-se com o vir a ser quando tudo é incompleto...

Aquilo que me tornarei não diz o que eu sou;

sou tudo menos isso!