quinta-feira, 19 de agosto de 2010

O Idiota


Incertezas, comiserações, vasos quebrados, noites escuras... Tropeços e quedas, erros, tiros a esmo... A espera do Idiota, uma bala guardada para um coração inquieto... O caminho até o fim leva dias, é uma romaria de almas mortas; aguardar o estampido surdo de uma nota que soa apenas uma vez. Eis o idiota que caminha, um misto de Cristo e Dom Quixote, um deslocado, um louco, um ser febril. Um russo soube do cheiro da morte, por isso nos deixou o relato da lâmina que corta fria a carne pulsante de um coração aflito. Quantas auto-biografias não se emparelham com a vida de um príncipe chamado Míchkin. Qual é o seu fim?
São valores que se vão em cada ataque epiléptico, é uma gota de esperança que se esvai do corpo contorcido no chão. Um erro apenas, e aquele que segue sobre a linha pode cair e nunca mais voltar; para os tortos, o certo pouco existe, ou é apenas um dos lados dos quais fazem uso.
Eis a escolha do Idiota: ser um idiota, um pária, a sofrer pelos seus pequenos erros... Ou, aceitar a miséria do mundo, e ser como qualquer um... Não mais carregar as cruzes, não mais lutar contra moinhos...

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