quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Você que se vai...

Vai inesperadamente, era algo que acreditávamos ser eminente, mas que assim mesmo, esperávamos que não ocorresse. Ela não poderia ir, era o receptáculo de tudo aquilo que de melhor havia no mundo, uma prova viva de que o espírito humano possui uma certa beleza teimosa em se esconder. Encantou a todos que cruzaram seu caminho, seus olhos oblíquos sempre dispostos a afagar o mais infeliz dos seres, alguém que de tão bela era quase uma idealização. Só suas cicatrizes a tornavam real, seus sofrimentos aos quais pouco dava valor eram a matéria bruta que ela transformava em belas histórias, ternas e prazeirosas, que nos faziam parar e esquecer o tempo do mundo, ouvindo sua voz macia e aconchegante.
Acolher seus diversos sobrinhos em uma manhã de sábado, encharcados e sujos. Trazê-los para o seu colo. Lembrava de todos em seus mínimos detalhes, surpreendia a importância que dava a cada um com quem pouco conversara. Cada ser tem seu encanto, seu lugar no mundo, e a miséria que nos cerca jamais pode ser desculpa para nos tornarmos monstros. Era essa sua lição...
Jamais ouvi uma palavra de recriminação saída de sua boca, compreendia a todos, deixava que vivessem suas vidas, já que ela já havia visto a maldade com sua pior face, tinha provado toda a capacidade humana de trazer dor e descontentamento, e mesmo assim, trilhou seu caminho com sensatez, ternura, ensinou muito a muitos; aprendi com ela...
Aqueles que um dia estiveram a seu lado não podem deixar de dever algo à vida, de se reconhecerem como privilegiados, conheceram a melhor pessoa possível, um modelo que se perde agora, mas que fica em nossas lembranças... sólido e duradouro...
Ela não foi uma pessoa, foi um valor!

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