quinta-feira, 8 de julho de 2010

Meus demônios

Por que eu me desfaria de meus demônios se eles são aquilo que de melhor tenho em mim?

Divagações na madrugada


Sensações que invadem toda minha existência, nego todo o absurdo do mundo, pois aceito minha ilusão como a perfeita concretização de meus intuitos; sou nada mais que um peregrino sobre a terra, um esmiuçador de conceitos, um destruidor de ídolos mal fundamentados, quero a guerra dos intelectos, a contenda, a vendeta, a morte, o que seja de mais sangrento, mas que seja!

Oscilações, sempre variando, se eu acompanhar os ritmos de minhas ilusões me perco em satisfações alheias. Completude? Risos ao infinito, a morte do único foi há muito tempo, Stirner estava errado, morro pelos outros, a cada minuto de minha existência!

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Conversa de surdos

O que esperar? Tento ler pensamentos, descobrir os indícios, chegar a conclusões deduzindo os fatores... Os resultados são sempre os mesmos, as catástrofes do dia-a-dia, as tormentas da vida entre outros.
Mesmo deixando tudo muito bem definido, explicando aquilo que vem à tona e até o que está subjacente, a confusão permanece... É o absurdo que constitui a vida, o mais inexplicável absurdo; ou aceitamos ele, ou enlouquecemos, ou nos tornamos monstros, o que acaba sendo tudo a mesma coisa.
Tomar o controle de si diante desse turbilhão de sentimentos incompletos é quase impossível frente a uma realidade que apresenta cada vez menos sentido. É se preocupar demais, ser analítico demais que acaba deixando evidente a lógica que opera nosso mundo. É um grande absurdo, o mais inexplicável e complexo absurdo, não é algo que está nos livros, ou nos manuais de como se viver a vida, é algo que é intrínseco ao nosso olhar e pensar, é o grande paradoxo de se estar vivo. Em suma, um grande absurdo, uma conversa de surdos.

Tropeços


Não adianta olhar para baixo, você vai tropeçar!
Não basta andar devagar, o chão é o limite!
Prudência é essencial, mas o tombo é inevitável!
Ninguém aprende a cair, ninguém começa nada achando que vai se arrebentar, só os idiotas fazem isso, ou os masoquistas...
Talvez o segredo seja aprender a se levantar... repetidas e infinitas vezes!

terça-feira, 6 de julho de 2010

Nossa consciência não é nada mais que um conjunto de memórias contruídas na dor.

domingo, 4 de julho de 2010

Perfeição em poucas palavras

Através da música as paixões gozam a si mesmas (Nietzche, Além do bem e do mal, aforismo 106).

Cotidiano


A identificação com Joseph K. é imediata... Bastam as primeiras linhas de Kafka para se saber quem é o acusado e qual crime ele cometeu. Nascer na modernidade, seja ela líquida ou reflexiva, é se descobrir um eterno condenado a arrastar os grilhões do cotidiano.

RESTAURADO...

Um copo de café e algumas páginas amareladas...
Será que você vai resistir ao meu próximo ataque de fúria?

Humano, demasiado humano...

Uma pedra
Agora é a pedra que bate, sem cerimônias, como um músculo negro que apenas reage aos estímulos de meu cérebro. Abandono tudo agora, as belezas e as tristezas, o claro e o escuro, o falso e o verdadeiro. Agora não mais desejo enxergar um palmo além da minha prudência; minha racionalidade me governa, minha ciência é meu refúgio.
Não mais desejo... Almejo, objetivo, quero com o cuidado de quem alimenta uma fera domesticada. Optei pela calma, pelo seguro, pelo seco, pelo entediante. Não mais espero o inesperado, pois calculo ao invés de sentir.
Mato o demônio em mim, para fazer negócio com outro mais burocrático.
Ousar custou-me a alma.
Mas apesar de tudo ainda sou HUMANO, DEMASIADAMENTE HUMANO...

Basta!


Chega de descontar o futuro no presente.
Basta de sofer por aquilo que talvez jamais acontecerá.
Os projetos podem esperar, as dores de cabeça podem ficar para amanhã...
Do vazio do não fazer abarcar o mundo, e esquecer que às vezes há o certo e o errado.
Quero carregar somente aquilo de que preciso, como as primeiras sociedades da abundância, vagar e não ser encontrado, levantar minha tenda e desmontá-la quando me cansar da paisagem.
Vender minha alma para o diabo e não pagar, enganar a todos com um sorriso....
Basta!

Sem contrariar o mestre

“Nada se parece mais com o pensamento mítico que ideologia política.” (Lévi-Strauss, 1967)
Talvez com um pouco menos de magia, e um pouco mais de ranço...

E fez-se a crítica!

Essa é a era dos discursos. Todos tem um conjunto de belas palavras com as quais engasgam alguns ideais furados. Sempre alguma coisa politicamente correta!
Quantas pessoas boas, corretas e engajadas temos hoje em dia. É algo difícil de entender, nosso mundo em frangalhos, uma crise moral em pleno desenvolvimento, e um bando de paladinos dos verdadeiros valores humanos anti-capitalistas arrotando o certo e o errado por aí.
É... Ideal já diz tudo; é idealizado, é para ficar no plano das idéias, do impraticável. É na verdade o combustível da crítica, de quem não faz e pisoteia aquilo que foi feito, de quem quer se eximir de compromissos mais práticos devido a uma afirmada incompatibilidade de valores.
Há desculpa para tudo, até para a falta de responsabilidade e sentido de realidade.
Os ismos... Marxismos, comunismos, anarquismos, idiotismos, quando adotados como verdades absolutas, são na verdade o falatório de uma tropa, ou vanguarda - como eles mesmos preferem -, que proferem o apocalipse de nossa civilização como quem quer nos salvar de nós mesmos.
Desculpe-me por ser humano! O super-homem nietszcheano do nosso tempo tem capa vermelha e bebe coca-cola, ao mesmo tempo, em que lê o Capital.
E fez-se a crítica!

Da Blague ao blasé

Cansado de pensar sozinho, comecei a pensar comigo mesmo.
Organizar os pensamentos, catalogá-los, colocá-los numa pratileira com pequenas etiquetas, com data de produção e validade. Ver quais servem; quais já não prestam mais, e principalmente aqueles que uso e não deveria usar.
Uma espécie de faxina intelectual, ou, uma exegese de mim mesmo.
Acabei encontrando mais coisas e pessoas para jogar fora do que para consertar. Parece-me que muito não pode ser remediado, vivemos num mundo em constante mudança, onde tudo que é sólido desmancha no ar - como diria Marshal Berman, "parodiando" Marx -, mas poucas pessoas dispostas a mudar. Mata-se e morre-se pelas suas concepções como nunca na história da humanidade (sem ironias lulistas), e por mais diálogos que sejam abertos, vemos somente a retórica imperar antes mesmo que qualquer ação transformadora, seja no âmbito individual, seja numa dimensão mais global.
No final dessa minha auto-análise acabei descobrindo que o problema está nos outros, que eu me conheço muito bem, que sou um poço de sabedoria em meio a uma tropa de insensíveis comedores de ópio. O problema está no mundo, que insiste em não girar ao meu redor; o que será que aconteceu com o meu umbigo? Será que ele saiu de órbita?
Esses movimentos de fora para dentro são perigosos, revelam nossas víceras, e todo o conjunto de tecidos vicosos e asquerosos que estão encondidos atrás de uma capa macia, e muitas vezes perfumada. Descobri-me mais um egoísta, um individualista de marca maior. Queria que a realidade ao meu redor respondesse aos meus intentos, que minha moral fosse universal, e que minhas certezas fossem o modelo para os outros.
Agora que sei o que sou, e como diz um amigo, "deixei de ser um ponto cego", posso viver mais feliz, entre meus iguais, sem me preocupar tanto, e sem esperar nada mais de ninguém. Estou indiferente, como o sujeito blasé.

Devaneios


Destruição: Razão...Não é mais digna de confiança do que o instinto, o mito ou o sonho... Mas pode ser muito mais perigosa para eles. Estão Explorando e criando, definindo e dissecando!

Sonho: Razão é uma ferramenta imperfeita, meu irmão.

Destruição: A relação entre matéria e luz; a transformação de um no outro! Já estive aqui, depois de um tempo certas idéias se tornam inevitáveis.

Sonho: Este é teu território, irmão, não meu. Começam a reorganizar suas vidas sob a razão. E daí? Não afeta meu domínio; e pouco fará com o teu para que mudes uma vez mais.

(Sandman, Vidas Breves parte IV)

Desesperança


Os contratos não são mais respeitados, nem mesmo aqueles assinados com sangue e suor. Se o dinheiro é o equivalente universal, se vivemos a "tragédia da cultura" em tons simmelianos, com o que negociarei minhas relações se os números que tenho são insuficientes?

Cada crise que abala o mercado é como a morte de um deus pagão e a afirmação do poder da mão invisível da única divindade moderna.

Somos produtos assépticos de um mundo desmagificado... obras de um futuro descontado no presente. Com nossos adornos descartáveis, somos nativos de uma terra vazia, sem mitos ou ritos. Que história conta nossa história, se não contamos nossos passos até aqui?


"A indiferença em relação à duração transforma a imortalidade de uma idéia numa experiência e faz dela um objeto de consumo imediato: é o modo como se vive o momento que faz desse momento uma experiência imortal" (BAUMAN: 2001, 144).

Nihil

Sou nada mais que um peregrino sobre a terra. E você, é algo mais que isso?

(Werther, Goethe)
O segredo talvez seja saber o seu lugar. Não no sentido de se conformar com as determinações que muitas vezes nos impedem de satisfazer um desejo, mas como perspectiva que nos abre o entedimento dos caminhos possíveis, e até mesmo de nossas capacidades.
Fico pensando sobre isso quando vejo pessoas na universidade, durante uma aula de antropologia, torcendo seus narizes pontudos ao conhecimento que está ali solto, quase tão substancial que sensível ao tato.
Será que elas sabem onde estão? Qual é o lugar que ocupam no mundo?

Fazer escolhas talvez seja o único processo constante e inevitável de nossas vidas, e escolher não saber, talvez seja a agressão mais terrível que alguém possa cometer contra si mesmo.

O maior humanista que o mundo conheceu


"Assim como o indivíduo não está sozinho no grupo e cada sociedade não está sozinha entre as outras, o homem não está só no universo. Quando o arco-íris das culturas humanas tiver terminado de se abismar no vazio aberto por nossa fúria; enquanto estivermos aqui e existir um mundo, esse arco tênue que nos liga ao inacessível permanecerá, mostrando o caminho contrário ao de nossa escravidão..." (Lévi-Strauss, 1955)

(1908-2009)
Adeus, selvagem! Adeus, viajante!

Passeio pelo Campus



"Existe o contrário do déjà vu. Chama-se jamais vu. É quando encontramos as mesmas pessoas ou visitamos os mesmos lugares repetidamente, mas cada vez é como se fosse a primeira. Todo mundo é estranho. Nada ali é familiar" (Chuck Palahniuk, 2005).

Enfadonho

Estou cansado das pessoas. Muita energia, muita paciência e memórias sempre muito curtas. Acredito que criamos caminhos tão intrincados até nós, que acabamos nos cansando de procurar a passagem correta.
Somos como aquelas bonecas russas, umas dentro das outras, cascas e máscaras até uma pequena coisa que é tão insignificante que pode não compensar todo o esforço de se abrir uma a uma.
Como E. Goffman nos dá a deixa, nossa sociedade é como uma peça de teatro, na qual os papéis invadem as esferas do nosso ser, tomando aquilo que nós somos aos poucos, criando caminhos tão complexos ao âmago de nossa personalidade, que nem mesmo toda a psicanálise ou antropologia do mundo conseguem desvendar.

Presente perpétuo


Durante muito tempo tentei entender aquilo que James Joyce queria com Ulisses. Precisei não ter mais tempo, não alcançá-lo e muito menos controlá-lo para compreender.


"Apega-te ao aqui, ao agora, nos quais todo futuro mergulha no passado" (James Joyce, Ulisses).

Questão de ordem

Será que é preciso ter caos dentro de si, ou vergonha na cara mesmo?
Essa é uma pergunta que me perturba. Um velho amigo amante dos canários diria que para dar à luz uma estrela bailarina seria preciso caos interior, vontade de poder, e outras coisas que aprendemos por aí...Já Graciliano Ramos coloca sem vasilina mesmo, já em outra conjuntura, sobre outros senhores e pangarés da academia: "Para ser sociólogo é preciso ter vegonha na cara".

O corvo

(...)

E o corvo, na noite infinda, está ainda, está ainda
No alvo busto de Atena que há por sobre os meus umbrais.
Seu olhar tem a medonha cor de um demônio que sonha,
E a luz lança-lhe a tristonha sombra no chão há mais e mais,

Libertar-se-á... nunca mais!


(Edgar Allan Poe por Fernando Pessoa).