sábado, 17 de julho de 2010

Próxima parada!


Por onde passo vou deixando pedaços, em um caminho que parece não ter fim. É como se nenhum lugar mais fosse tão seguro, não houvesse mais lar, lugar para voltar... Será que essa é a deriva, o mosaico, a fluidez de nossas individualidades ditas pós-modernas? Como me encaixo, como digo "isso é meu"?
Lévi-Strauss dizia que em nossas sociedades modernas e complexas o mito só se processaria no indivíduo, daí nossas neuroses talvez, nossas incapacidades de darmos sentido a essas cadeias simbólicas processadas inconscientemente.
Qual seria então o meu mito individual, seria o do eterno filho pródigo? Daquele que sempre volta para onde não mais consegue se encaixar, e que quando se vai, deixa parte de si para trás. Qual será o ponto de partida e o de chegada, se os referenciais se misturam? Será para onde volto o lugar que abandonei, ou de onde parto o meu lugar de origem?
Minhas raízes não se prendem mais ao solo, por mais força que façam, são frágeis, se arrebentam toda vez que me arranco de um lugar ao outro... quando tento me recompor percebo não estar tão seguro, não existem mais oásis de descanso, somente salas de espera, "não-lugares" assépticos, nos quais a vida se alimenta de pouco mais do que seus restos. A segurança acabou, o único calor agora é aquele da fogueira do acampamento.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Let this river flow

Essas preocupações que movimentam o seu ser, que colocam seu coração de sobre-salto, são apenas complicações daquilo que é simples e não quer se tornar monótono. Apreciamos o imponderável, a dificuldade, os problemas; tornar tudo complexo, até onde podemos suportar.
Do que é singelo obtemos apenas o desprezo por algo tosco e mal acabado. Precisa ser transformado, tornado incompreensível, para depois nos engolir e dificultar nosso viver; queremos nos sentir grandes mártires por estarmos vivos, e enfrentarmos a realidade como quem reproduz a jornada mítica,de um herói que já morreu há tempos, mas que deixou sua herança sórdida que coloca tudo como um grande desafio.
Fazemos de copos d’água grandes tormentas, pequenos erros transformam-se em catástrofes, a ponto de um fracasso valer por toda uma vida. Você ganha ou você perde, é sempre uma coisa ou outra, quando sempre há uma terceira coisa! Não pise fora linha! Quando ela nunca existiu, é como o equador, uma marcação imaginária, que lhe dará no máximo um mapa que nunca será em escala real, ou será que emoções se medem por graduações conversíveis? É deixar as coisas correrem, do resto o tempo se encarrega...

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Vigília

Uma noite, gestos, toques, sentidos. Palavras suaves ditas como encantamentos secretos, para poucos, para únicos. Incansavelmente entretidos em seus jogos de olhares, em seus movimentos de suspiros infinitos iluminando a escuridão com sua quintessência vaporosa. O mundo lá fora, como algo alheio, pois somente o universo dos sentidos impera como uma possibilidade, o resto são ilusões, coisas para pensar, entulhos de sonhos não alcançados, de desejos não satisfeitos. Uma vigília que guarda o sagrado, o mítico, mistérios para dois, não mais.

Essência


Algo que está em mim, algo que não existe fora de mim.

Preocupar-se com o vir a ser quando tudo é incompleto...

Aquilo que me tornarei não diz o que eu sou;

sou tudo menos isso!

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Aos amigos


O que dizer desses sujeitos? Pessoas normais coisa nenhuma! Ninguém dentro da normalidade faz isso hoje em dia. Eles resistiram ao seu tempo, não deixaram que seus dias enfraquecessem seu caráter, continuaram firmes, como seguidores fiéis de valores ultrapassados. Podem sentir as angústias da realidade, mas como quem prova um sabor amargo que logo se desfaz; são fortes, moldados em pedra, estão ali, ou melhor, sempre estarão ali.
Só o que posso fazer é ser grato pela sorte de estar cercado de gigantes, eu que sou tão pequeno.

Simplicidade

Simplicidade... Tenho saudades daquela vida descomplicada, cheia de rotinas e sem emoções. Nada de novo acontecia, mas nada de tão ameaçador, envelhecia a cada dia um dia. Sabia pouco, mas o suficiente, brindava aos amigos e aos loucos que encontrávamos pela madrugada. Um litro de conhaque para cada noite de filosofia vagabunda.
Agora é mais... mais complicado, mais difícil, menos compreensível. As pessoas se tornaram enigmas, e o que faço, um grande contra-senso. A cada dia penso mais que a vida simples que um grande amigo meu sempre defendeu seja o caminho mais saudável até a velhice, já que estar nesse mundo parece nos deixar duas alternativas: envelhecer ou enlouquecer.

domingo, 11 de julho de 2010

Caos

"A última proeza possível é aquela que define a própria percepção, um invisível cordão de ouro que nos conecta: dança ilegal pelos corredores do tribunal. Seu eu fosse beijar você aqui, chamariam isso de um ato de terrorismo – então vamos levar nossos revólveres para a cama & acordar a cidade à meia-noite como bandidos bêbados celebrando a mensagem do sabor do caos com um tiroteio" (Hakin Bey).