domingo, 26 de maio de 2013

Dissimulando

Um estalo e tudo fica tão claro. O desafio de enfrentar todos os dias os mesmos inconvenientes e passar por sobre pedras que estão em seus devidos lugares. Um clandestino em um velho navio cargueiro, um fantasma em um casarão abandonado. Figuras indesejáveis, mas necessárias, dão legitimidade a esses lugares, uma ar de permissividade, de marginalidade para aquilo que representa o que há de mais perverso. Almas encarceradas, sonhos de viagens impossíveis.
É em certo momento liminar que se descortinam as “verdades estruturais”, quando fica claro que seu lugar não é ali, aqueles não são os seus, e os poucos que geram reconhecimento saturam as relações, exageram a proximidade, exigem a paciência como um mecanismo de sobrevivência.
Você não é um deles, por mais que compartilhe seus rituais e tenha aprendido a linguagem dos mais favorecidos. Para aqueles que foram moldados pela força do formão da vida sobre a matéria bruta todos os dias são um martírio de uma peregrinação em corredores sem cor, ouvindo os ecos de risos secos, ofuscando o reflexo de olhos arregalados pelas lentes de óculos grandes demais para uma capacidade limitada de enxergar. Isso consome seu orgulho, obriga a sorrir com os dentes cerrados, faz da rotina uma encenação. Esse teatro goffmaneano, essas versões de eus cotidianos, essa dissimulação obrigatória.

É daquela arte xamânica de dançar sobre um poste e escapar por uma fresta quem vem a inspiração para esse artesanato da vida acadêmica, ser um estranho, tão estranho que acaba passando desapercebido. 

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Do que é feita essa experiência etnográfica? Estou me decidindo entre um abandono total a esses chavões clássicos, ou a adoção de que tudo é inventado... Desde o cobrador do ônibus até as moléculas de água. O que é querer ser científico? Se no final alguém vai dizer que não presta... Não quero mais pensar nisso tudo, vou tomar a minha concepção de antropologia como a certa a ser seguida, quem sabe aquela que inventei não seja mais real que o cobrador do ônibus...
Por isso eu digo, "iconoclastas de todo mundo uni-vos!".

domingo, 21 de agosto de 2011

“[...] você não pode estar simultaneamente na escola e no bosque sagrado” (GRIAULE: 1952, p. 164)

sábado, 4 de junho de 2011

Esforços...

A força estaria em aceitar suas fraquezas ou em uma desmedida demonstração de violência contra o mundo? Parecida com a desculpa de um fraco, que se abre ao primeiro divã, ou com a afirmação de um déspota individualista, a verdade não seria meio-termo, mas uma tomada de posição: queres uma vida construindo castelos de areia, ou outra, destruindo-os sob seus pés?

quinta-feira, 19 de maio de 2011

"Existe uma solução segura para todos os atuais problemas do mundo, e ela cabe em uma só palavra: Ateísmo" (Marshall Sahlins).

sábado, 15 de janeiro de 2011

With Fear I Kiss The Burning Darkness

Se fosse apenas mais um assunto mal resolvido, ou mais um brincadeira de corpos não valeria nem mesmo um suspiro. Se não houvesse o medo gelando o sangue a cada instante, há muito já teria partido. Terror, fúria... E o descontrole... Desconhecidamente aterrador, um salto às escuras, mas jamais um segundo perdido.
Cada noite passada em claro, como um perfeito paradoxo escondido na escuridão. Com medo eu beijei a escuridão incandescente, para esquentar meu sangue, para torná-lo forte como a fúria de um deus pagão, para alcançar a eternidade.


With fear I kiss the burning darkness
Forever burn

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Náusea

"Nunca tive tão nitidamente como hoje o sentimento de ser o meu corpo, sem dimensões secretas, de me reduzir aos pensamentos leves que sobem dele como bolhas. Construo as minhas recordações com o meu presente. Sou repelido para o presente, abandonado lá. Tento em vão ir ter com o passado: não posso fugir da minha prisão"
(Jean Paul Sartre - A náusea).

Máquina desejante

Tão frágil e simples. Obscura como uma noite sem estrelas. Passageira e fugidia.
A cada momento que desejo construo uma lembrança com vida própria, que se faz por si, se emancipa... se rebela. Como uma ninhada de pássaros selvagens, de corvos negros em seu vôo inaugural. A cada farfalhar de galhos secos mais uma imagem se forma, e eis que toma vida mais um desejo subrepticiamente idealizado.
Uma máquina desejante de um inconsciente produtivo, não um depósito de velharias, mas um criadouro de feras... Cavalgaduras demoníacas que atropelam toda coisa imaculada pelo caminho, que desfiguram tudo aquilo que era intocado. Só o que pode ser desejado, tocado e liberado é digno de nota.

domingo, 9 de janeiro de 2011


Hoje enterrei minha loucura e abandonei sua primeira parte, o medo... Não arrasto mais o peso daquilo que não nasceu e que nem por um momento existiu.
Não quero os quartos acolchoados das minhas neuroses; se eu os construi posso muito bem derrubá-los, e habitar outras paragens...
Até a bricolagem mais heterogênea possui uma lógica, nada se faz de elementos fora de lugar que não fazem sentido. Para o inferno com essas sandices, está enterrada, sem maiores cerimônias, nem mesmo um velório ou uma lápide. Que as carpideiras arrumem outro ofício.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

No need for tomorrow
When you can't find today

(Won´t Find It Here - Black Label Society)

Finalmente finda-se a farsa do futuro

Nenhum dia mais no horizonte... Talvez o amanhã, como o dia seguinte e não como um futuro distante ou um plano de vida. Todas as etiquetas adesivas que poluiam as formas do mundo amargam agora a mais profunda solidão no lixo mais próximo.
Os planos agora são somente esses curtos sorrisos, ou o entrelaçar de dedos... De todas as confusões que nos aguardam optei pela única certeza, a mais pura e bela que encontrei.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Quando o tempo não faz sentido


Contando as horas passo meus dias... Os minutos, depois os segundos.
É como me arrastar de um canto ao outro, as vezes sem um rumo... Matar o tempo como uma obrigação, de quem bate o cartão do cotidiano. Como quando estamos sentados na poltrona do ônibus vendo a paisagem passar... Um poste, um passante, um posto de beira de estrada, todos são não-lugares, não-sujeitos, ornamentos necessários.
Eis como se configuram meus dias, depois que conheci certos momentos... É assim que um relógio que conta as horas parece algo tão ridículo. Não faz sentido algum dizer que passamos duas, três horas juntos, foi uma pequena porção de eternidade permeada por pequenos detalhes perfeitos, um mosaico translúcido de todas as melhores lembranças.
Aparentemente foi ontem, ou semana passada, ou melhor, há 30 minutos atrás, quando na verdade já se transformaram em uma narrativa mitológica, que agora conto com outras cores, pois as misturo com a sensação do último toque, das pontas dos dedos, dos braços esticados na despedida...
Você é meu pequeno livro de contos, o Carvalho que Orlando levava ao peito, você sabe muito bem do que falo, pois da nossa linguagem apenas nós dois entendemos.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Esquizoanálise


(...) esses eus de que somos constituídos, sobrepostos uns aos outros como pratos empilhados na mão do copeiro, têm suas predileções, simpatias, pequenos códigos e direitos próprios, chamem-se como quiserem (e muitas dessas coisas não têm nome), de modo que um só virá se estiver chovendo, outro, se for um quarto com cortinas verdes, outro, se a Sra. Jones não estiver lá, outro, se pudermos prometer um copo de vinho – e assim por diante; pois cada pessoa pode multiplicar com a sua própria experiência as diferentes condições que impõem os seus diferentes eus – e algumas, de tão ridículas, nem podem ser impressas em letra de fôrma (Vírginia Woolf - Orlando).

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Talvez eu me atrase...

Quero sempre certezas e saber o que esperar. Mas de repente me vem um lampejo, talvez um segundo de lucidez que me permite entender que tudo é circunstancial, desde sentimentos até tempestades. Passar por uma encruzilhada e ser atropelado ou tropeçar nos pés da mulher de sua vida. Tudo ocorre das formas mais inusitadas, e até o encontro marcado só ocorre se em algum lugar o inesperado esteja operando. Para alguém as coisas não foram como se esperava para que você chegasse na hora marcada e não perdesse uma chance ou um sorriso. E eu querendo controlar, da melhor forma, trazendo para perto o que insiste em ser arredio, achando assim que conseguiria estar tranqüilo e pisar em terreno firme. Posso alimentar essa minha ilusão, por alguns dias ou meses, mas a crueza das coisas uma hora se apresenta e eis eu mais uma vez desapontado com aquilo que criei em meu espírito. O futuro não existe, pois só ganha materialidade e realização quando se concretiza no presente, por isso talvez o meu desconforto, já que sempre tentei planejar e prever. Mas sempre em algum lugar o imponderável opera. Hoje talvez o meu barco se atrase e eu possa pensar sobre como construir um dique sem jamais barrar o sentido das coisas.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Desde o início.


Fechando mais um ciclo de infortúnios, o relógio olha para as horas e diz: "engulo-te como quem sorve a matéria de todo o universo, como um buraco negro prestes a tomar toda a existência para si".
Eis que agora a serpente morde a própria cauda e o caos que se instaura demonstra toda sua potência destruidora. O futuro não existe!

domingo, 24 de outubro de 2010

"Você me fez confessar os medos que tenho. Mas vou lhe dizer também aquilo que não temo. Não temo estar só ou ser rejeitado por um outro ou abandonar o que quer que eu tenha que abandonar. E não tenho medo de cometer um erro, até mesmo um grande erro, um erro que dure toda a vida e quem sabe tão longo mesmo quanto a eternidade" (J. Joyce - Um retrato do artista quando jovem)

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Indiferença


É sempre o ciclo de decepções do qual a vida retira seu sentido. Quando as expectativas superam os resultados dos processos, o mundo parece tão vazio de questões relevantes e mesmo de relações consistentes que o abandono das convicções passa a ser o mecanismo de auto-defesa mais fácil de ser acionado. Idealizações são o fermento da discórdia e das insatisfações, é centrar-se em si o movimento natural e irremediável de todo indivíduo nos dias de hoje. Colocar esperanças em algo ou alguém é tornar-se vulnerável em um contexto que não perdoa fraquezas; são lobos entre lobos, querendo arrancar cada um seu pedaço de carne, mesmo que para isso todos os seus sejam dilacerados.
Como transitar sem manter a expectativa da reciprocidade? São formas de viver e conviver frias, que colocam os sujeitos distantes, e que permitem apenas um campo de enunciação: transformar o outro em objeto, quando também eu não sou sujeito quando as contas são feitas do outro lado. Não tenho essas respostas, se me torno um grande matemático dessas subjetividades perco até mesmo quando ganho, é optar pela segurança em detrimento daquilo que realmente importa: as surpresas que o estar vivo nos reserva.
Manter os pés nos chão quando em tudo que metemos nossos narizes buscamos elevação e a liberação da indigência pela qual transitam nossas relações... Será impossível não assumir riscos? Realmente não tenho as respostas, mas alguns querem me dá-las, insistem em me ensinar a arte da indiferença, acho que vou tentar aprender, aliás, o quanto já não aprendi sobre isso...

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Indícios


O extraordinário cruza nossos caminhos diariamente, mas nossos olhos desmagificados não conseguem captar as mensagens sutis que estão dispostas. Tendências racionais, organizadoras por essência, catalogadoras, encaixam tudo aquilo que presenciamos em suas taxionomias.
Os indícios que Ginzburg tanto procurou, nos mostram pequenos pedaços, amostras de todos, respostas subliminares para as nossas aflições. Há um equilíbrio agindo, maior que nosso entendimento, a naturalidade de um caos que pouco se preocupa em se ordenar... Não há uma consciência, um destino, um supra sujeito operador dos infortúnios, apenas ciclos intermináveis de idas e vindas, de evoluções e involuções, identificações e diferenciações... Em alguns momentos as explicações nos surgem, como lampejos de lucidez sob a luz de mensagens impossíveis de serem interpretadas pela razão analítica, não da forma como a concebemos...
O místico não precisa ser irracional, matéria de loucos ou charlatães; ele pode muito bem ser aquilo que não precisamos fazer força alguma para entender; a compreensão é automática, como algo instintivo, como matéria de um ritual esquecido, ou assunto de xamãs perdidos na selva. Uma sabedoria que negamos a nós mesmos.
Eu entendi, no momento que eu precisei das respostas... Mais uma vez a ciência se mostra necessitada de resignificações, de outros paradigmas mais viscerais, que respondam às correntes elétricas que vagam pelas nossas sinapses, assim como aos impulsos da libido. Somos carne e ossos, espírito e dados, razão e sangue... Pouco mais que gráficos.... Daí os coelhos brancos, as sombras nos corredores, as correntes arrastadas no sótão...

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

De Durkheim a Tarde...

Vemos a totalidade, e esse olhar sobre o todo deixa escapar os detalhes, as reações, as diferenciações, os movimentos de idas e vindas, para cima e para baixo que fundam a dinâmica dos corpos. Acredito que seja uma questão de perspectiva, pois a visão de dentro acaba revelando como as distinções operam até mesmo nos todos mais homogêneos. São os usos estratégicos da cultura, que proporcionam a apropriação momentânea, o jogo estruturado, mas nem por isso fechado.
Sempre dizem: "é uma coisa ou outra", quando sempre há uma terceira coisa!

domingo, 22 de agosto de 2010

Só a presença já basta, o estar ali... cruzando olhares, trocando sorrisos. Apenas o existir, por alguns segundos paralisados, estáticos...

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Resurrection


Solitude and broken hearts
Living all around us
Centuries of asking "why the wind blows here"
Search a solution to save us from pain
From falling to pieces
I survived a war with demons
And i've erased the past
It's a new beginning waking up
Waking from my sleep
I feel alive and we're gonna dance


quinta-feira, 19 de agosto de 2010

O Idiota


Incertezas, comiserações, vasos quebrados, noites escuras... Tropeços e quedas, erros, tiros a esmo... A espera do Idiota, uma bala guardada para um coração inquieto... O caminho até o fim leva dias, é uma romaria de almas mortas; aguardar o estampido surdo de uma nota que soa apenas uma vez. Eis o idiota que caminha, um misto de Cristo e Dom Quixote, um deslocado, um louco, um ser febril. Um russo soube do cheiro da morte, por isso nos deixou o relato da lâmina que corta fria a carne pulsante de um coração aflito. Quantas auto-biografias não se emparelham com a vida de um príncipe chamado Míchkin. Qual é o seu fim?
São valores que se vão em cada ataque epiléptico, é uma gota de esperança que se esvai do corpo contorcido no chão. Um erro apenas, e aquele que segue sobre a linha pode cair e nunca mais voltar; para os tortos, o certo pouco existe, ou é apenas um dos lados dos quais fazem uso.
Eis a escolha do Idiota: ser um idiota, um pária, a sofrer pelos seus pequenos erros... Ou, aceitar a miséria do mundo, e ser como qualquer um... Não mais carregar as cruzes, não mais lutar contra moinhos...

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Você que se vai...

Vai inesperadamente, era algo que acreditávamos ser eminente, mas que assim mesmo, esperávamos que não ocorresse. Ela não poderia ir, era o receptáculo de tudo aquilo que de melhor havia no mundo, uma prova viva de que o espírito humano possui uma certa beleza teimosa em se esconder. Encantou a todos que cruzaram seu caminho, seus olhos oblíquos sempre dispostos a afagar o mais infeliz dos seres, alguém que de tão bela era quase uma idealização. Só suas cicatrizes a tornavam real, seus sofrimentos aos quais pouco dava valor eram a matéria bruta que ela transformava em belas histórias, ternas e prazeirosas, que nos faziam parar e esquecer o tempo do mundo, ouvindo sua voz macia e aconchegante.
Acolher seus diversos sobrinhos em uma manhã de sábado, encharcados e sujos. Trazê-los para o seu colo. Lembrava de todos em seus mínimos detalhes, surpreendia a importância que dava a cada um com quem pouco conversara. Cada ser tem seu encanto, seu lugar no mundo, e a miséria que nos cerca jamais pode ser desculpa para nos tornarmos monstros. Era essa sua lição...
Jamais ouvi uma palavra de recriminação saída de sua boca, compreendia a todos, deixava que vivessem suas vidas, já que ela já havia visto a maldade com sua pior face, tinha provado toda a capacidade humana de trazer dor e descontentamento, e mesmo assim, trilhou seu caminho com sensatez, ternura, ensinou muito a muitos; aprendi com ela...
Aqueles que um dia estiveram a seu lado não podem deixar de dever algo à vida, de se reconhecerem como privilegiados, conheceram a melhor pessoa possível, um modelo que se perde agora, mas que fica em nossas lembranças... sólido e duradouro...
Ela não foi uma pessoa, foi um valor!

terça-feira, 17 de agosto de 2010

(...)

Mais uma vez o caos e o desencontro. Uma confusão interminável.
Um instante e todos os esforços mais nada significam. Muito justo, mas infinitamente triste. Do pouco conquistado o muito perdido. Uma irremediável tragédia escrita com antecedência.
Escapa pelas minhas mãos, pela minha incompetência e insensibilidade.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Reticente...

Olhos que se perdem em pensamentos e mistérios. Como um ser arisco, encantador e selvagem, desconfiado com o mundo, mas seguro de si. A cada passo em sua direção é a fuga que ameaça e a torna mais fascinante. Como momentos efêmeros que se gravam na pele, como marcas de uma experiência vivida em outra vida, em uma outra época, quando os mestres eram reis, quando os deuses eram sóis.
É aos poucos, devagar, ela vem sorrateira. É nos detalhes que o sorriso vem fácil. É como conquistar o mundo aos poucos, um pedaço por dia, batalhas que você vence pela insistência, mas que são doces, imprevisíveis, muitas vezes confusas e desencontradas, mas nem por isso imperfeitas.
Beber a vida como um vinho raro, enebriar-se com aquilo que é simples e belo... Descobrir que maravilhosas surpresas a vida nos guarda.

domingo, 8 de agosto de 2010

O pêndulo

Eis que vai... Eis que volta! Como o desespero e o entusiasmo. Rápido o suficiente para impedir uma imagem, lento demais para não deixar uma lembrança. Como uma pedra no sapato, de um lado ao outro, incomoda, mas quando a tiramos parece que algo falta.
Marcar os segundos, dar corda à vida. Eis que vai... Eis que volta! A vontade e o desânimo. A energia de conhecer o mundo, que acaba quando lembramos de seus absurdos. Como os ímpetos de um domingo à tarde, inspiram, mas não nos movem.
O ritmo. Eis que vai... Eis que volta! O controle e o excesso. Como caminhar contando os passos, não impõe os riscos, não desafia, merece o esquecimento.
É preciso provar todas as dimensões do pavor e do conforto. Sentir a falta de algo que não esteve presente é se perder em ilusões alheias. Oscilar e esperar. Eis que vai... Eis que volta!

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Era manhã, como qualquer outra. Fria, mas um sol esperado e quente. Os mesmos pensamentos podem contaminar a mente mais sadia, transtorná-la, torná-la abjeta, pouco capaz de construir ilusões ricas de sentido. O que sobra de fantástico se o concreto se impõe como regra? Caminhos de uma rotina acabada se intercalam entre impossibilidades, a presença do azar ou da sorte!
Esperava um gato preto, mas quem cruzou seu caminho foi um coelho branco. Uma grande ironia, ou uma mensagem para pensar, interpretar...

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Escolhas...

Escolhas são feitas todos os dias. Quero a vermelha, melhor assim, melhor assado... Quando é apenas uma camiseta, ou a cor da gravata, é mais simples, até porque muitos mudam de opinião como mudam de roupa. Agora, decidir sobre questões que alteram a vida dos outros, pensar que você tem o poder sobre os rumos e caminhos de outrem, isso exige a responsabilidade dos grandes, do peso que só quem tem ombros largos pode suportar. Retidão, caráter, palavras que parecem perdidas em antigas enciclopédias amareladas, que hoje não fazem sentido para muitos, são poucos que se dispõem a carregá-las e pagar pela sua teimosia.
Mas o erro é algo constante para aqueles que escolhem, que ousam decidir o que seja... Esse tal de livre-arbítrio é a droga das mais fortes, nos convence de que sabemos aquilo que é melhor para nós mesmos, ficamos tentados a arriscar um salto mortal de costas só porque nos disseram que era perigoso. É coragem ou irresponsabilidade... tanto faz, escolher, colocar a Marselhesa para tocar no ouvido dos seus vizinhos é muito fácil, difícil é sair na calçada quando chamarem a polícia.

sábado, 31 de julho de 2010

Inexplicável

Desejar demais... Aguardar o momento de realizar o irrealizável. Esperar e esperar. Descontar o futuro no presente. Da náusea à satisfação há uma grande distância, que perpassa todos os obstáculos ao possível. Espere o que for, mas não espere o explicável. Isso foge...