domingo, 4 de julho de 2010

Da Blague ao blasé

Cansado de pensar sozinho, comecei a pensar comigo mesmo.
Organizar os pensamentos, catalogá-los, colocá-los numa pratileira com pequenas etiquetas, com data de produção e validade. Ver quais servem; quais já não prestam mais, e principalmente aqueles que uso e não deveria usar.
Uma espécie de faxina intelectual, ou, uma exegese de mim mesmo.
Acabei encontrando mais coisas e pessoas para jogar fora do que para consertar. Parece-me que muito não pode ser remediado, vivemos num mundo em constante mudança, onde tudo que é sólido desmancha no ar - como diria Marshal Berman, "parodiando" Marx -, mas poucas pessoas dispostas a mudar. Mata-se e morre-se pelas suas concepções como nunca na história da humanidade (sem ironias lulistas), e por mais diálogos que sejam abertos, vemos somente a retórica imperar antes mesmo que qualquer ação transformadora, seja no âmbito individual, seja numa dimensão mais global.
No final dessa minha auto-análise acabei descobrindo que o problema está nos outros, que eu me conheço muito bem, que sou um poço de sabedoria em meio a uma tropa de insensíveis comedores de ópio. O problema está no mundo, que insiste em não girar ao meu redor; o que será que aconteceu com o meu umbigo? Será que ele saiu de órbita?
Esses movimentos de fora para dentro são perigosos, revelam nossas víceras, e todo o conjunto de tecidos vicosos e asquerosos que estão encondidos atrás de uma capa macia, e muitas vezes perfumada. Descobri-me mais um egoísta, um individualista de marca maior. Queria que a realidade ao meu redor respondesse aos meus intentos, que minha moral fosse universal, e que minhas certezas fossem o modelo para os outros.
Agora que sei o que sou, e como diz um amigo, "deixei de ser um ponto cego", posso viver mais feliz, entre meus iguais, sem me preocupar tanto, e sem esperar nada mais de ninguém. Estou indiferente, como o sujeito blasé.

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